O que propor a um corpo, como afirma Breton*1 - esvaziado de seu caráter simbólico ?
Acreditamos que operar a doação de sentidos e propor a doação de sentidos através do contato com o outro,como sugere Deleuze a partir do estudo da obra de Lewis Carroll pode ser um dos caminhos...
"...O sentido é sempre um efeito produzido nas séries pela instancia que as percorre. Eis porque o sentido, tal como é recolhido pelo Aion, tem ele próprio duas faces que correspondem correspondem às faces dissimétricas do elemento paradoxal: uma, voltada para a série determinada como significante; a outra voltada para a série determinada como significada..."*2
*3*1 > Breton
*2 > Gillez Deleuze -Lógica do Sentido (pg83 sobre o paradoxo)
*3 > Félix Guattarri
0 corpo sem órgãos é um corpo afetivo, intensivo, anarquista, que só comporta polos, zonas, limiares e gradientes. Uma poderosa vitalidade não- orgânica o atravessa. Lawrence retrata esse corpo com seus polos de sol e de lua, seus planos, cortes e plexos. Mais do que isso, quando Lawrence atribui a seus personagens uma dupla determinação, pode-se pensar que uma é um sentimento pessoal orgânico, mas a outra é um afecto inorgânico, muito mais poderoso, que percorre esse corpo vital: "Quanto mais delicada era a música, maior era a perfeição com que ele a executava numa felicidade completa; ao mesmo tempo, a louca exasperação que nele havia crescia na mesma proporção. Lawrence não cessará de apresentar corpos organicamente defeituosos ou pouco atraentes, como o gordo toureiro aposentado ou o general mexicano magro e sebento, atravessados porém pela intensa vitalidade que desafia os órgãos e desfaz a organização. A vitalidade não-orgânica e a relação do corpo com forças ou poderes imperceptíveis que dele se apossam ou dos quais ele se apossa, como a lua se apossa do corpo de uma mulher: Heliogabalo anarquista dará incessantemente na obra de Artaud testemunho desse enfrentamento com as forças e os poderes, como outros tantos devires mineral, vegetal, animal. Criar para si um corpo sem órgãos, encontrar seu corpo sem órgãos é a maneira de escapar ao juízo.
Deleuze - Para dar um fim ao juízo - Crítica e Clínica
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